Socialização de gênero
Outro caminho a seguir
para compreender as origens das diferenças de gênero é o do estudo da
socialização de gênero, a aprendizagem dos papéis de gênero com o apoio dos
agentes sociais, tais como a família e os meios de comunicação. Esta abordagem
estabelece uma distinção entre sexo biológico e gênero social - uma criança
nasce com o primeiro e desenvolve-se com o segundo. As crianças, através do
contacto com diversos agentes de socialização, primários e secundários,
interiorizam progressivamente as normas e expectativas sociais que correspondem
ao seu sexo. As diferenças de gênero não são determinadas biologicamente, mas
geradas culturalmente. Neste sentido, existem desigualdades de gênero, pois os
homens e as mulheres são socializadas em papéis diferentes. Os funcionalistas
têm favorecido as teorias da socialização do gênero, pois vêem os rapazes e as
raparigas [moças] como aprendizes dos «papéis sexuais» e das identidades
masculina e feminina - masculinidade e feminilidade - que os acompanham.
Rapazes e raparigas [moças] são guiados neste processo por sanções positivas e
negativas, forças socialmente aplicadas que recompensam ou restringem o
comportamento. Um rapaz poderá ser positivamente sancionado no seu
comportamento, por exemplo, («És um menino muito corajoso!») ou receber uma
sanção negativa («Os meninos não brincam com bonecas»). Estes acompanhamentos
positivos e negativos ajudam os rapazes e as raparigas na aprendizagem dos
papéis sexuais que se espera virem a desempenhar e a conformarem-se com eles.
Se um indivíduo desenvolve práticas de gênero que não correspondem ao seu sexo
biológico - isto é, comportamentos desviantes - procura-se a explicação numa
socialização inadequada ou irregular. Segundo esta perspectiva funcionalista,
os agentes de socialização contribuem para a manutenção da ordem social ao
supervisionar a socialização natural do gênero nas novas gerações. Esta
interpretação rígida dos papéis sexuais e da socialização tem sido alvo de
críticas em muitos aspectos. Muitos autores afirmam que a socialização do
gênero não é um processo inerentemente harmonioso; diferentes agentes, como a
família, a escola e o grupo de amigos, poderão entrar em conflito entre si.
Além disso, as teorias da socialização ignoram a capacidade dos indivíduos para
rejeitar, ou modificar, as expectativas sociais que envolvem os papéis sexuais.
Como Connell afirmou: «Os agentes da socialização» não geram efeitos mecânicos
num ser em crescimento. Pede-se à criança para participar na pratica social
impondo-lhe determinadas condições. O pedido poderá ser, e é muitas vezes,
coercivo - acompanhado por uma grande pressão para ser aceite e sem se propor
uma alternativa... Mesmo assim, as crianças declinam, ou começam mais
precisamente a tomar a sua própria posição no domínio do gênero. Poderão
rejeitar a heterossexualidade... poderão começar a misturar elementos
masculinos e femininos, o que ocorre, por exemplo, quando as raparigas
[moças] persistem em praticar desportos
competitivos na escola. Poderão iniciar uma ruptura nas suas próprias vidas,
por exemplo, quando os rapazes se vestem a sós com roupas femininas. Poderão
construir uma vida de fantasia que entra em conflito com a sua prática actual
(sic), o que é talvez a prática mais comum. (Connell, 1987) É importante
lembrar que os seres humanos não são objectos (sic) passivos ou receptores
inquestionáveis de uma «programação» do gênero, como alguns sociólogos
sugeriram. As pessoas são agentes activos (sic) que criam e modificam papéis
para si mesmas. Embora seja necessário algum cepticismo (ceticismo)
relativamente a qualquer adopção (sic) na globalidade da teoria dos papéis
sexuais, muitos estudos revelaram que as identidades do gênero são, em certa
medida, fruto das influências sociais. As influências sociais na identidade de
gênero fluem de canais muito diversificados; até os pais que se dedicaram a
educar os filhos de uma forma «não sexista» consideram difícil combater os
padrões existentes de aprendizagem do gênero (Statham, 1986). Os estudos sobre
a interacção (sic) progenitor-criança revelaram, por exemplo, diferenças
distintas no tratamento dos rapazes e das raparigas [moças], mesmo quando os
pais acreditam ter a mesma reacção (sic) com ambos. Os brinquedos, os livros
ilustrados e os programas de televisão para crianças tendem a destacar as
diferenças entre gênero.
Sociologia. GIDDENS, Athony. Tradução de Alexandra Figueiredo, Ana Patrícia Duarte Baltazar, Catarina Lorga da Silva, Patrícia Matos e Vasco Gil. Fundação Calouste Gulbekian. Lisboa 6ª Edição. 2008
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