segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Socialização de Gênero 2EM

Socialização de gênero

Outro caminho a seguir para compreender as origens das diferenças de gênero é o do estudo da socialização de gênero, a aprendizagem dos papéis de gênero com o apoio dos agentes sociais, tais como a família e os meios de comunicação. Esta abordagem estabelece uma distinção entre sexo biológico e gênero social - uma criança nasce com o primeiro e desenvolve-se com o segundo. As crianças, através do contacto com diversos agentes de socialização, primários e secundários, interiorizam progressivamente as normas e expectativas sociais que correspondem ao seu sexo. As diferenças de gênero não são determinadas biologicamente, mas geradas culturalmente. Neste sentido, existem desigualdades de gênero, pois os homens e as mulheres são socializadas em papéis diferentes. Os funcionalistas têm favorecido as teorias da socialização do gênero, pois vêem os rapazes e as raparigas [moças] como aprendizes dos «papéis sexuais» e das identidades masculina e feminina - masculinidade e feminilidade - que os acompanham. Rapazes e raparigas [moças] são guiados neste processo por sanções positivas e negativas, forças socialmente aplicadas que recompensam ou restringem o comportamento. Um rapaz poderá ser positivamente sancionado no seu comportamento, por exemplo, («És um menino muito corajoso!») ou receber uma sanção negativa («Os meninos não brincam com bonecas»). Estes acompanhamentos positivos e negativos ajudam os rapazes e as raparigas na aprendizagem dos papéis sexuais que se espera virem a desempenhar e a conformarem-se com eles. Se um indivíduo desenvolve práticas de gênero que não correspondem ao seu sexo biológico - isto é, comportamentos desviantes - procura-se a explicação numa socialização inadequada ou irregular. Segundo esta perspectiva funcionalista, os agentes de socialização contribuem para a manutenção da ordem social ao supervisionar a socialização natural do gênero nas novas gerações. Esta interpretação rígida dos papéis sexuais e da socialização tem sido alvo de críticas em muitos aspectos. Muitos autores afirmam que a socialização do gênero não é um processo inerentemente harmonioso; diferentes agentes, como a família, a escola e o grupo de amigos, poderão entrar em conflito entre si. Além disso, as teorias da socialização ignoram a capacidade dos indivíduos para rejeitar, ou modificar, as expectativas sociais que envolvem os papéis sexuais. Como Connell afirmou: «Os agentes da socialização» não geram efeitos mecânicos num ser em crescimento. Pede-se à criança para participar na pratica social impondo-lhe determinadas condições. O pedido poderá ser, e é muitas vezes, coercivo - acompanhado por uma grande pressão para ser aceite e sem se propor uma alternativa... Mesmo assim, as crianças declinam, ou começam mais precisamente a tomar a sua própria posição no domínio do gênero. Poderão rejeitar a heterossexualidade... poderão começar a misturar elementos masculinos e femininos, o que ocorre, por exemplo, quando as raparigas [moças]  persistem em praticar desportos competitivos na escola. Poderão iniciar uma ruptura nas suas próprias vidas, por exemplo, quando os rapazes se vestem a sós com roupas femininas. Poderão construir uma vida de fantasia que entra em conflito com a sua prática actual (sic), o que é talvez a prática mais comum. (Connell, 1987) É importante lembrar que os seres humanos não são objectos (sic) passivos ou receptores inquestionáveis de uma «programação» do gênero, como alguns sociólogos sugeriram. As pessoas são agentes activos (sic) que criam e modificam papéis para si mesmas. Embora seja necessário algum cepticismo (ceticismo) relativamente a qualquer adopção (sic) na globalidade da teoria dos papéis sexuais, muitos estudos revelaram que as identidades do gênero são, em certa medida, fruto das influências sociais. As influências sociais na identidade de gênero fluem de canais muito diversificados; até os pais que se dedicaram a educar os filhos de uma forma «não sexista» consideram difícil combater os padrões existentes de aprendizagem do gênero (Statham, 1986). Os estudos sobre a interacção (sic) progenitor-criança revelaram, por exemplo, diferenças distintas no tratamento dos rapazes e das raparigas [moças], mesmo quando os pais acreditam ter a mesma reacção (sic) com ambos. Os brinquedos, os livros ilustrados e os programas de televisão para crianças tendem a destacar as diferenças entre gênero.

Sociologia. GIDDENS, Athony. Tradução de Alexandra Figueiredo, Ana Patrícia Duarte Baltazar, Catarina Lorga da Silva, Patrícia Matos e Vasco Gil. Fundação Calouste Gulbekian. Lisboa 6ª Edição. 2008

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