Sociologia como Esporte de Combate,
contextualização e resumo do vídeo.
Muito se tem falado sobre a relevância
das Humanidades e dos saberes das Ciências Humanas em Geral. Nesse contexto de
justificativa e até de esclarecimento do papel da Sociologia Pierre Bourdieu
(08/1930-01/2002) sempre fazia uso de uma metáfora em seus cursos e
palestras sobre a utilidade da Sociologia. Bourdieu dizia que a Sociologia era
como “um esporte de combate”, e a finalidade do pensamento sociológico para
ele como uma Arte Marcial e uma auto defesa. Nesse sentido podemos também
trazer a fala de Zygmunt Bauman (11/1925-01/2017) que num livro intitulado
Aprendendo a Pensar afirma que “arte de
pensar sociologicamente consiste em ampliar o alcance e a efetividade prática
da liberdade. Quanto mais disso aprender, mais o indivíduo será flexível diante
da opressão e do controle, e, portanto, menos sujeito a manipulação.”. Desse
modo, tanto para Bourdieu quanto para Bauman a Sociologia é uma ferramenta de
auto-defesa no Mundo ou no Tecido Social em que vivemos.
Voltando a Pierre Bourdieu, ele deu uma entrevista
à Rádio francesa RDC nos anos 2000, que deu título a um documentário sobre sua
vida A Sociologia como Esporte de Combate. Na entrevista Bourdieu refuta
a definição de Sociologia como “estudo social dos fenômenos sociais entre os
homens”, afirmando que é uma definição difícil de entender; para Bourdieu o sociólogo
como todo cientista busca estabelecer leis, identificar regularidades, e
definir os princípios dessas regularidades, ou seja, perceber o que acontece no
mundo social com mais frequência para universalizar ações regulares que
beneficiem o conjunto da Sociedade. Para exemplificar, o sociólogo faz uso do
exemplo produto de estatísticas de que “Filhos de professores vão melhor na
escola que filhos de operários. Nesse exemplo Bourdieu expõe o método do fazer
sociológico, que é produto de análise e reflexão embasadas em casos reais, que
por sua vez são mapeados e demonstrados em estatísticas. Neste exemplo, de
filhos de professores e operários nota-se que na maioria dos casos e, não em
todos, os filhos dos professores vão melhor na escola que os filhos dos
operários, podendo haver exceção nesta regularidade. Saber por que isso
acontece é importante para o sociólogo porque ele pode sugerir uma política
pública que replique para os pais operários as ações que melhorem o desempenho
de seus filhos.
O entrevistador observa que um dos conceitos
forjados por Bourdieu é a reprodução social, e questiona-o sobre a
desigualdade, inquirindo o que é a desigualdade social e porque ela existe, a
quem interessa ela existir e como a desigualdade social se legitima na
sociedade. Bourdieu reconhece que é um vasto problema e difícil de abordar, não
aceita a questão referindo-se a ela como metafísica. De todo modo essa questão
é controversa.
A entrevista segue e o entrevistador traz o
conceito de reprodução social que leu na obra do próprio Bourdieu. Este fala
sobre a imagem que os sociólogos tinham quando ele começou a estudar a
sociologia que era de que o mundo estava em constante mutação e mudança social,
citando o termo self made man (o homem faz-se a si mesmo). No entanto, Bourdieu
afirma que quando começou a estudar a Sociedade por meio de estatísticas que há
pouca mobilidade social, ou seja, ao invés de a condição social das pessoas na
sociedade mudar e se movimentar permanentemente, há no mundo social certa
estabilidade e uma inércia que gera uma sociedade da permanência e
estabilidade.
Bourdieu questionado ainda sobre a desigualdade
social começa a tratar a questão observando que a desigualdade se dá porque há
transferência de capital. Faz uso de exemplo de um pai rico que mesmo tendo um
filho que não é um bom estudante, arruma meios de transferir o dinheiro que tem
para o filho, inclusive de modo a propiciar que o filho mantenha esse capital.
Bourdieu afirma que existe um outro tipo de capital, que justamente faz com que
o pai rico propicie a seu filho um bom futuro que se origina nas famílias ricas
e abastadas. Esse capital que ele nomeia como capital cultural, vem com a
língua, com o modo que as famílias ricas adquirem cultura: desde o pai contando
histórias para seus filhos e acesso a livros de crianças e o que ele chama de
recursos raros, como arte, literatura, música que tornam a vida da criança que
está numa família com capital cultural mais capacitada para se adaptar na teia
social com mais êxito que uma criança privada disso. O capital cultural observa
Bourdieu se espalha pela dimensão das relações humanas. Citando estudo de uma
socióloga americana ele revela que nos Estados Unidos crianças de classe média
aprendem com suas famílias a se relacionarem melhor com os professores que
crianças de famílias pobres, obtendo assim melhores notas que estas, fazendo
com isso que no sistema de meritocracia de notas americano exista uma
perpetuação e permanência das elites no ingresso às universidades, ou ainda,
controlando o acesso à Universidade pelo dinheiro de famílias ricas que podem
pagar os cursos superiores quando os filhos não conseguem bolsa por terem boas
notas. Isso ocorre de forma análoga com os filhos de samurais no Japão que tem
privilégios na sociedade japonesa.
A desigualdade social mantida pelo capital cultural
é promovida pelo que Bourdieu percebe como uma classe social que se coloca como
beneficiária do Estado, sustentando, por exemplo, que o país irá bem quando
essa classe estiver bem economicamente: “Se minha industria vai bem, o país
está em crescimento. Se a minha empresa está mal é porque o pais está em
crise”.
Bourdieu conclui que a Sociologia serve para
esclarecer as pessoas da realidade de como se organiza o mundo social, a fim de
ajudar as pessoas a criarem técnicas de auto defesa para viver melhor,
conscientes de sua possibilidade de ação.
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