terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Contextualização e resumo do vídeoSociologia como Esporte de Combate

Sociologia como Esporte de Combate, contextualização e resumo do vídeo.

Muito se tem falado sobre a relevância das Humanidades e dos saberes das Ciências Humanas em Geral. Nesse contexto de justificativa e até de esclarecimento do papel da Sociologia Pierre Bourdieu (08/1930-01/2002) sempre fazia uso de uma metáfora em seus cursos e palestras sobre a utilidade da Sociologia. Bourdieu dizia que a Sociologia era como “um esporte de combate”, e a finalidade do pensamento sociológico para ele como uma Arte Marcial e uma auto defesa. Nesse sentido podemos também trazer a fala de Zygmunt Bauman (11/1925-01/2017) que num livro intitulado Aprendendo a Pensar afirma que “arte de pensar sociologicamente consiste em ampliar o alcance e a efetividade prática da liberdade. Quanto mais disso aprender, mais o indivíduo será flexível diante da opressão e do controle, e, portanto, menos sujeito a manipulação.”. Desse modo, tanto para Bourdieu quanto para Bauman a Sociologia é uma ferramenta de auto-defesa no Mundo ou no Tecido Social em que vivemos.
Voltando a Pierre Bourdieu, ele deu uma entrevista à Rádio francesa RDC nos anos 2000, que deu título a um documentário sobre sua vida A Sociologia como Esporte de Combate. Na entrevista Bourdieu refuta a definição de Sociologia como “estudo social dos fenômenos sociais entre os homens”, afirmando que é uma definição difícil de entender; para Bourdieu o sociólogo como todo cientista busca estabelecer leis, identificar regularidades, e definir os princípios dessas regularidades, ou seja, perceber o que acontece no mundo social com mais frequência para universalizar ações regulares que beneficiem o conjunto da Sociedade. Para exemplificar, o sociólogo faz uso do exemplo produto de estatísticas de que “Filhos de professores vão melhor na escola que filhos de operários. Nesse exemplo Bourdieu expõe o método do fazer sociológico, que é produto de análise e reflexão embasadas em casos reais, que por sua vez são mapeados e demonstrados em estatísticas. Neste exemplo, de filhos de professores e operários nota-se que na maioria dos casos e, não em todos, os filhos dos professores vão melhor na escola que os filhos dos operários, podendo haver exceção nesta regularidade. Saber por que isso acontece é importante para o sociólogo porque ele pode sugerir uma política pública que replique para os pais operários as ações que melhorem o desempenho de seus filhos.
O entrevistador observa que um dos conceitos forjados por Bourdieu é a reprodução social, e questiona-o sobre a desigualdade, inquirindo o que é a desigualdade social e porque ela existe, a quem interessa ela existir e como a desigualdade social se legitima na sociedade. Bourdieu reconhece que é um vasto problema e difícil de abordar, não aceita a questão referindo-se a ela como metafísica. De todo modo essa questão é controversa.
A entrevista segue e o entrevistador traz o conceito de reprodução social que leu na obra do próprio Bourdieu. Este fala sobre a imagem que os sociólogos tinham quando ele começou a estudar a sociologia que era de que o mundo estava em constante mutação e mudança social, citando o termo self made man (o homem faz-se a si mesmo). No entanto, Bourdieu afirma que quando começou a estudar a Sociedade por meio de estatísticas que há pouca mobilidade social, ou seja, ao invés de a condição social das pessoas na sociedade mudar e se movimentar permanentemente, há no mundo social certa estabilidade e uma inércia que gera uma sociedade da permanência e estabilidade.   
Bourdieu questionado ainda sobre a desigualdade social começa a tratar a questão observando que a desigualdade se dá porque há transferência de capital. Faz uso de exemplo de um pai rico que mesmo tendo um filho que não é um bom estudante, arruma meios de transferir o dinheiro que tem para o filho, inclusive de modo a propiciar que o filho mantenha esse capital. Bourdieu afirma que existe um outro tipo de capital, que justamente faz com que o pai rico propicie a seu filho um bom futuro que se origina nas famílias ricas e abastadas. Esse capital que ele nomeia como capital cultural, vem com a língua, com o modo que as famílias ricas adquirem cultura: desde o pai contando histórias para seus filhos e acesso a livros de crianças e o que ele chama de recursos raros, como arte, literatura, música que tornam a vida da criança que está numa família com capital cultural mais capacitada para se adaptar na teia social com mais êxito que uma criança privada disso. O capital cultural observa Bourdieu se espalha pela dimensão das relações humanas. Citando estudo de uma socióloga americana ele revela que nos Estados Unidos crianças de classe média aprendem com suas famílias a se relacionarem melhor com os professores que crianças de famílias pobres, obtendo assim melhores notas que estas, fazendo com isso que no sistema de meritocracia de notas americano exista uma perpetuação e permanência das elites no ingresso às universidades, ou ainda, controlando o acesso à Universidade pelo dinheiro de famílias ricas que podem pagar os cursos superiores quando os filhos não conseguem bolsa por terem boas notas. Isso ocorre de forma análoga com os filhos de samurais no Japão que tem privilégios na sociedade japonesa.
A desigualdade social mantida pelo capital cultural é promovida pelo que Bourdieu percebe como uma classe social que se coloca como beneficiária do Estado, sustentando, por exemplo, que o país irá bem quando essa classe estiver bem economicamente: “Se minha industria vai bem, o país está em crescimento. Se a minha empresa está mal é porque o pais está em crise”.     

Bourdieu conclui que a Sociologia serve para esclarecer as pessoas da realidade de como se organiza o mundo social, a fim de ajudar as pessoas a criarem técnicas de auto defesa para viver melhor, conscientes de sua possibilidade de ação.     

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