terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Música Coisas de Brasil Rincon Sapiência

É o cinza, é o verde, é o quente, é o frio
É a seca, é o rio, bem vindos ao Brasil
O preto, o branco, o indígena, mixa
Europa, África, acarajé, pizza
Música, lenda, os fato e as fita
O crime, Lampião, Maria Bonita
Fazendo avião, os menor tem o dom
Pera lá, não confunda com Santos Dumont
São coisas de Brasil, arte sem cachê
São coisas de Brasil, sem forçá, sem clichê
Tio Sam insinua que as mina anda nua
Que os caras tão armado e os macaco tão na rua
Câmeras, gruas, filmou, põe na tela
Cinemas, novelas, bundas e favelas
Elite no comando, aproveitadores lucram
O povo se virando, trabalhadores lutam

Na rua a gente vê a real, negô
São coisas de Brasil, não é mole não
Sentado no sofá não vai dar, negô
Nem tudo é verdade na televisão

São coisas de Brasil, os pretos, os dreads
Zumbi vive, não é Walking Dead
Não procede o pensamento fútil
Que resume o Brasil em futebol e glúteo
Luta! Tivemos os nossos guerrilheiros
Salve Marighella, Antônio Conselheiro!
Pega no batente a mão do povo pobre
Que a alegra povo nobre, batendo no pandeiro

Pra larica tem um bom serviço
Tapioca com café, amo muito tudo isso
Do sudeste para o norte muito bom saí
Sol raiando forte e a tigela de açaí

É Tupi Guarani, é Tupiniquim
Taco o fogo no bruxo, que se [dane] o Halloween
Educação nosso adversário
Estádios perfeitos, ensino precário

Mãos à obra, na mão o calo
Acordar antes da cantiga do galo
Água fria vai da cabeça ao ralo
Retrato do meu povo, é dele que eu falo

À procura da paz, sempre pronto pra guerra
Atrás dos seus sonhos, no camp o de terra
No bar dia de jogo, é olho na tela
Tem gol do rapaz que nasceu na favela

O bom samba cura, batucada pura
Do tambor de um revólver, munição perfura
Tristeza, sirene, corpo, fratura
Alegria, família unida e fartura

Viatura de olho nos seus trago
São, quatro homens armados e mal pagos
Jão, a boca que prova do amargo
É a mesma que abre o sorriso mais largo

Igrejas e bar, cultos e doses
Conclusão: bendita seja a neurose
Massa de manobra, não, mãos à obra
Quero mão na massa, não mão na sobra

Os preto na cela se comprime
Boneca preta é raro nas vitrine
Bundas, biquinis, praias, carnavais
Mulher, seu brilho vale muito mais

Entre quatro paredes o meu limite
Pior é tá no limite dos madeirite
Ow! Silêncio na hora do protesto
Gol! O grito que gera amidalite
Elite, controla o ensino da escola
No livro são leigos e gênios com a bola
Brasil, vivemos à margem desse lugar
Onde os Marcola surgem à Beira-Mar

Contextualização e resumo do vídeoSociologia como Esporte de Combate

Sociologia como Esporte de Combate, contextualização e resumo do vídeo.

Muito se tem falado sobre a relevância das Humanidades e dos saberes das Ciências Humanas em Geral. Nesse contexto de justificativa e até de esclarecimento do papel da Sociologia Pierre Bourdieu (08/1930-01/2002) sempre fazia uso de uma metáfora em seus cursos e palestras sobre a utilidade da Sociologia. Bourdieu dizia que a Sociologia era como “um esporte de combate”, e a finalidade do pensamento sociológico para ele como uma Arte Marcial e uma auto defesa. Nesse sentido podemos também trazer a fala de Zygmunt Bauman (11/1925-01/2017) que num livro intitulado Aprendendo a Pensar afirma que “arte de pensar sociologicamente consiste em ampliar o alcance e a efetividade prática da liberdade. Quanto mais disso aprender, mais o indivíduo será flexível diante da opressão e do controle, e, portanto, menos sujeito a manipulação.”. Desse modo, tanto para Bourdieu quanto para Bauman a Sociologia é uma ferramenta de auto-defesa no Mundo ou no Tecido Social em que vivemos.
Voltando a Pierre Bourdieu, ele deu uma entrevista à Rádio francesa RDC nos anos 2000, que deu título a um documentário sobre sua vida A Sociologia como Esporte de Combate. Na entrevista Bourdieu refuta a definição de Sociologia como “estudo social dos fenômenos sociais entre os homens”, afirmando que é uma definição difícil de entender; para Bourdieu o sociólogo como todo cientista busca estabelecer leis, identificar regularidades, e definir os princípios dessas regularidades, ou seja, perceber o que acontece no mundo social com mais frequência para universalizar ações regulares que beneficiem o conjunto da Sociedade. Para exemplificar, o sociólogo faz uso do exemplo produto de estatísticas de que “Filhos de professores vão melhor na escola que filhos de operários. Nesse exemplo Bourdieu expõe o método do fazer sociológico, que é produto de análise e reflexão embasadas em casos reais, que por sua vez são mapeados e demonstrados em estatísticas. Neste exemplo, de filhos de professores e operários nota-se que na maioria dos casos e, não em todos, os filhos dos professores vão melhor na escola que os filhos dos operários, podendo haver exceção nesta regularidade. Saber por que isso acontece é importante para o sociólogo porque ele pode sugerir uma política pública que replique para os pais operários as ações que melhorem o desempenho de seus filhos.
O entrevistador observa que um dos conceitos forjados por Bourdieu é a reprodução social, e questiona-o sobre a desigualdade, inquirindo o que é a desigualdade social e porque ela existe, a quem interessa ela existir e como a desigualdade social se legitima na sociedade. Bourdieu reconhece que é um vasto problema e difícil de abordar, não aceita a questão referindo-se a ela como metafísica. De todo modo essa questão é controversa.
A entrevista segue e o entrevistador traz o conceito de reprodução social que leu na obra do próprio Bourdieu. Este fala sobre a imagem que os sociólogos tinham quando ele começou a estudar a sociologia que era de que o mundo estava em constante mutação e mudança social, citando o termo self made man (o homem faz-se a si mesmo). No entanto, Bourdieu afirma que quando começou a estudar a Sociedade por meio de estatísticas que há pouca mobilidade social, ou seja, ao invés de a condição social das pessoas na sociedade mudar e se movimentar permanentemente, há no mundo social certa estabilidade e uma inércia que gera uma sociedade da permanência e estabilidade.   
Bourdieu questionado ainda sobre a desigualdade social começa a tratar a questão observando que a desigualdade se dá porque há transferência de capital. Faz uso de exemplo de um pai rico que mesmo tendo um filho que não é um bom estudante, arruma meios de transferir o dinheiro que tem para o filho, inclusive de modo a propiciar que o filho mantenha esse capital. Bourdieu afirma que existe um outro tipo de capital, que justamente faz com que o pai rico propicie a seu filho um bom futuro que se origina nas famílias ricas e abastadas. Esse capital que ele nomeia como capital cultural, vem com a língua, com o modo que as famílias ricas adquirem cultura: desde o pai contando histórias para seus filhos e acesso a livros de crianças e o que ele chama de recursos raros, como arte, literatura, música que tornam a vida da criança que está numa família com capital cultural mais capacitada para se adaptar na teia social com mais êxito que uma criança privada disso. O capital cultural observa Bourdieu se espalha pela dimensão das relações humanas. Citando estudo de uma socióloga americana ele revela que nos Estados Unidos crianças de classe média aprendem com suas famílias a se relacionarem melhor com os professores que crianças de famílias pobres, obtendo assim melhores notas que estas, fazendo com isso que no sistema de meritocracia de notas americano exista uma perpetuação e permanência das elites no ingresso às universidades, ou ainda, controlando o acesso à Universidade pelo dinheiro de famílias ricas que podem pagar os cursos superiores quando os filhos não conseguem bolsa por terem boas notas. Isso ocorre de forma análoga com os filhos de samurais no Japão que tem privilégios na sociedade japonesa.
A desigualdade social mantida pelo capital cultural é promovida pelo que Bourdieu percebe como uma classe social que se coloca como beneficiária do Estado, sustentando, por exemplo, que o país irá bem quando essa classe estiver bem economicamente: “Se minha industria vai bem, o país está em crescimento. Se a minha empresa está mal é porque o pais está em crise”.     

Bourdieu conclui que a Sociologia serve para esclarecer as pessoas da realidade de como se organiza o mundo social, a fim de ajudar as pessoas a criarem técnicas de auto defesa para viver melhor, conscientes de sua possibilidade de ação.     

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Eu Tenho um Sonho 1EM História

Esta Situação de Aprendizagem tem como objetivo discutir a importância do discurso pronunciado por Martin Luther King em 28 de agosto de 1963, durante a Marcha de Washington por Emprego e Liberdade. Importante momento na história do Movimento Americano pelos Direitos Civis, esse discurso será referência para uma reflexão sobre questões sociais brasileiras.

Leitura e análise de texto
O contexto da luta
            Pela atual Constituição brasileira, promulgada em 1988, o racismo é considerado crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão; porém, nem sempre foi assim. Nos Estados Unidos da América, desde o final do século XIX, muitos Estados adotavam a política do “separados, mas iguais”; na prática, isso significava que nos espaços públicos, como meios de transporte, restaurantes e escolas, negros e brancos ficavam separados. Além disso, os salários dos negros eram menores que os salários dos brancos que desempenhavam as mesmas funções. Inconformados com essa discriminação, os negros estadunidenses intensificaram sua luta pela igualdade civil.
            Nessa luta, destacou-se Martin Luther King, um pastor protestante que liderou a luta de negros estadunidenses em defesa de seus direitos civis, nas décadas de 1950 e 1960. Ele pregava a resistência não violenta, como boicotes dos negros a linhas de ônibus e estabelecimentos comerciais nos quais houvesse discriminação, além de passeatas e marchas.
            Em 28 de agosto de 1963, em Washington, capital do país, Martin Luther King organizou uma marcha que chegou a reunir 250 mil pessoas, a fim de pressionar o governo a implementar leis de igualdade dos direitos civis. Na escadaria do Lincoln Memorial, um monumento em homenagem ao presidente Abraham Lincoln, ele pronunciou seu famoso discurso, popularmente intitulado I have a dream (“Eu tenho um sonho”), pois essa frase foi repetida pelo pastor diversas vezes. Nesse discurso, ele pregava a união e a coexistência pacífica entre brancos e negros. Era esse o seu sonho.
             Em 1964, foi aprovada a Lei dos Direitos Civis, que tornou ilegal a discriminação racial em instalações públicas; Luther King recebeu o Prêmio Nobel da Paz.
                                         Elaborado por Mônica Lungov Bugelli especialmente para o São Paulo faz escola.


Discurso “Eu tenho um sonho” (trecho)
“(...) Eu tenho um sonho de que um dia esta nação se erguerá e experimentará o verdadeiro significado de sua crença:
‘Acreditamos que essas verdades são evidentes, que todos os homens são criados iguais’(Sim).
Eu tenho um sonho de que um dia, nas encostas vermelhas da Geórgia, os filhos dos antigos escravos sentarão ao lado dos filhos dos antigos senhores, à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho de que um dia até mesmo o estado do Mississippi, um estado sufocado pelo calor da injustiça, sufocado pelo calor da opressão, será um oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho de que os meus quatro filhos pequenos viverão um dia numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter (Sim,Senhor). Hoje, eu tenho um sonho!
Eu tenho um sonho de que um dia, lá no Alabama, com o seu racismo vicioso, com o seu governador de cujos lábios gotejam as palavras ‘intervenção’ e ‘anulação’, um dia, bem no meio do Alabama, meninas e meninos negros darão as mãos a meninas e meninos brancos, como irmãs e irmãos. Hoje, eu tenho um sonho.
Eu tenho um sonho de que um dia todo vale será alteado (Sim) e toda colina, abaixada; que o áspero será plano e o torto, direito; ‘que se revelará a glória do Senhor e, juntas, todas as criaturas a apreciarão’ (Sim).
Esta é a nossa esperança, e esta a fé que levarei comigo ao voltar para o Sul (Sim).
Com esta fé, poderemos extrair da montanha do desespero uma rocha de esperança (Sim).
Com esta fé, poderemos transformar os clamores dissonantes da nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade.
Com esta fé (Sim, Senhor), poderemos partilhar o trabalho, partilhar a oração, partilhara luta, partilhar a prisão e partilhar o nosso anseio por liberdade, conscientes de que um dia seremos livres.
 E esse será o dia, e esse será o dia em que todos os filhos de Deus poderão cantar com um renovado sentido. (...)”

Martin Luther King, discurso “Eu tenho um sonho”. Proferido na Marcha sobre Washington, D.C., por Trabalho e Liberdade, em 28 ago. 1963. In: Um apelo à consciência: os melhores discursos de Martin Luther King. Selecionado e organizado por Clayborne Carson e Kris Shepard. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. p. 73-76.

1.     De acordo com o texto 1, nos Estados Unidos  se adotava a política do “separados mas iguais”. O que significava isso?
2.     Quem foi Martin Luther King?
3.     Qual foi o fato mais importante protagonizado por Martin Luther King?
4.     Por que ele disse “Eu tenho um sonho”?
5.      A partir  da leitura do texto 2,  no qual Martin Luther King relata o seu sonho, identifique os problemas enfrentados pelos negros dos Estados Unidos naquela época.





segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Sociologia como Esporte de Combate Pierre Bourdieu

https://www.youtube.com/watch?v=Qw3DtijbsKI

Socialização de Gênero 2EM

Socialização de gênero

Outro caminho a seguir para compreender as origens das diferenças de gênero é o do estudo da socialização de gênero, a aprendizagem dos papéis de gênero com o apoio dos agentes sociais, tais como a família e os meios de comunicação. Esta abordagem estabelece uma distinção entre sexo biológico e gênero social - uma criança nasce com o primeiro e desenvolve-se com o segundo. As crianças, através do contacto com diversos agentes de socialização, primários e secundários, interiorizam progressivamente as normas e expectativas sociais que correspondem ao seu sexo. As diferenças de gênero não são determinadas biologicamente, mas geradas culturalmente. Neste sentido, existem desigualdades de gênero, pois os homens e as mulheres são socializadas em papéis diferentes. Os funcionalistas têm favorecido as teorias da socialização do gênero, pois vêem os rapazes e as raparigas [moças] como aprendizes dos «papéis sexuais» e das identidades masculina e feminina - masculinidade e feminilidade - que os acompanham. Rapazes e raparigas [moças] são guiados neste processo por sanções positivas e negativas, forças socialmente aplicadas que recompensam ou restringem o comportamento. Um rapaz poderá ser positivamente sancionado no seu comportamento, por exemplo, («És um menino muito corajoso!») ou receber uma sanção negativa («Os meninos não brincam com bonecas»). Estes acompanhamentos positivos e negativos ajudam os rapazes e as raparigas na aprendizagem dos papéis sexuais que se espera virem a desempenhar e a conformarem-se com eles. Se um indivíduo desenvolve práticas de gênero que não correspondem ao seu sexo biológico - isto é, comportamentos desviantes - procura-se a explicação numa socialização inadequada ou irregular. Segundo esta perspectiva funcionalista, os agentes de socialização contribuem para a manutenção da ordem social ao supervisionar a socialização natural do gênero nas novas gerações. Esta interpretação rígida dos papéis sexuais e da socialização tem sido alvo de críticas em muitos aspectos. Muitos autores afirmam que a socialização do gênero não é um processo inerentemente harmonioso; diferentes agentes, como a família, a escola e o grupo de amigos, poderão entrar em conflito entre si. Além disso, as teorias da socialização ignoram a capacidade dos indivíduos para rejeitar, ou modificar, as expectativas sociais que envolvem os papéis sexuais. Como Connell afirmou: «Os agentes da socialização» não geram efeitos mecânicos num ser em crescimento. Pede-se à criança para participar na pratica social impondo-lhe determinadas condições. O pedido poderá ser, e é muitas vezes, coercivo - acompanhado por uma grande pressão para ser aceite e sem se propor uma alternativa... Mesmo assim, as crianças declinam, ou começam mais precisamente a tomar a sua própria posição no domínio do gênero. Poderão rejeitar a heterossexualidade... poderão começar a misturar elementos masculinos e femininos, o que ocorre, por exemplo, quando as raparigas [moças]  persistem em praticar desportos competitivos na escola. Poderão iniciar uma ruptura nas suas próprias vidas, por exemplo, quando os rapazes se vestem a sós com roupas femininas. Poderão construir uma vida de fantasia que entra em conflito com a sua prática actual (sic), o que é talvez a prática mais comum. (Connell, 1987) É importante lembrar que os seres humanos não são objectos (sic) passivos ou receptores inquestionáveis de uma «programação» do gênero, como alguns sociólogos sugeriram. As pessoas são agentes activos (sic) que criam e modificam papéis para si mesmas. Embora seja necessário algum cepticismo (ceticismo) relativamente a qualquer adopção (sic) na globalidade da teoria dos papéis sexuais, muitos estudos revelaram que as identidades do gênero são, em certa medida, fruto das influências sociais. As influências sociais na identidade de gênero fluem de canais muito diversificados; até os pais que se dedicaram a educar os filhos de uma forma «não sexista» consideram difícil combater os padrões existentes de aprendizagem do gênero (Statham, 1986). Os estudos sobre a interacção (sic) progenitor-criança revelaram, por exemplo, diferenças distintas no tratamento dos rapazes e das raparigas [moças], mesmo quando os pais acreditam ter a mesma reacção (sic) com ambos. Os brinquedos, os livros ilustrados e os programas de televisão para crianças tendem a destacar as diferenças entre gênero.

Sociologia. GIDDENS, Athony. Tradução de Alexandra Figueiredo, Ana Patrícia Duarte Baltazar, Catarina Lorga da Silva, Patrícia Matos e Vasco Gil. Fundação Calouste Gulbekian. Lisboa 6ª Edição. 2008

Possibilidades do Conhecimento Sociológico 1EM

Possibilidades do Conhecimento Sociológico

[...] Em face do mundo considerado familiar, governado por rotinas capazes de reconfirmar crenças, a sociologia pode surgir como alguém estranho, irritante e intrometido. Por colocar em questão aquilo que é considerado inquestionável, tido como dado, ela tem o potencial de abalar as confortáveis certezas da vida, fazendo perguntas que ninguém que se lembrar de fazer e cuja a simples menção provoca ressentimentos naqueles que detêm interesses estabelecidos [...]
            Há quem se sinta humilhado ou ressentido se algo que domina e de que se orgulha é desvalorizado porque foi contestado. Por mais compreensível, porém, que seja o ressentimento assim gerado, a desfamiliarização pode ter benefícios evidentes. Pode abrir novas e insuspeitáveis possibilidades de conviver com mais consciência de se, mais compreensão do que nos cerca em termos de um eu completo, de seu conhecimento social e talvez com mais liberdade e controle.
            Para todos aqueles que acham que viver a vida de maneira mais consciente vale a pena, a sociologia é um guia bem-vindo.
            Pensar sociologicamente pode nos tornar mais sensíveis e tolerantes em relação a diversidade, daí decorrentes sentidos afiados e olhos abertos para novos horizontes além das experiências imediatas, afim de que possamos explorar condições humanas até então relativamente invisíveis.
            [...] A arte de pensar sociologicamente consiste em ampliar o alcance e a efetividade prática da liberdade. Quanto mais disso aprender, mas o indivíduo será flexível diante da opressão e do controle, e, portanto, menos sujeito a manipulação. [...]    
                Nesse sentido, pensar sociologicamente significa entender de um modo mais completo quem nos cerca, tanto em suas esperanças e desejos quanto em suas inquietações e preocupações.
            Pensar sociologicamente, então, tem um potencial para promover a solidariedade entre nós, uma solidariedade fundada em compreensão e respeito mútuos, em resistência conjunta ao sofrimento e em partilhada condenação das crueldades que o causam. 
            Bauman, Zygmunt. Aprendendo a pensar com a sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. P 24 – 26.


Questões:
1) De acordo com o texto, por que o pensamento sociológico  “tem o potencial de abalar as confortáveis certezas da vida”?


2) A Sociologia pode contribuir para que haja mais liberdade de pensamento e de ação? Recorra a elementos do texto para fundamentar sua resposta.

Violência Escolar 3EM

Leitura de Texto:‘A violência nas escolas reproduz a violência na sociedade’, diz educadora

Segundo coordenadora da Unesco, ausência de regras claras entre professores e alunos contribuiu para o aumento dos casos de agressão.

Em Brasília, dois casos de agressão chamaram a atenção do país. Na maior universidade da capital, um professor acabou no hospital após ser agredido por um estudante. Em uma escola pública de ensino básico, um aluno foi morto a facadas pelo colega. “A violência nas escolas reproduz a violência na sociedade, não é um fenômeno intramuros isolado”, afirma a coordenadora de Ciências Humanas e Sociais da Unesco no Brasil, Marlova Noleto.
Segundo a educadora, os ambientes escolares deixaram de ser lugares protegidos e muitos pais perderam a tranquilidade ao levar os filhos à escola. Ela destaca que a ausência de regras claras de convivência entre alunos e professores contribui para o aumento da violência.
Para o professor da faculdade de Educação da Universidade de Brasília e da Universidade Católica Célio da Cunha, há uma profunda crise de valores humanos. “A violência na escola vem da Idade Média, é uma prática inconcebível no século XXI. A escola tem que refletir uma cultura de respeito da merendeira ao diretor”, diz. Cunha defende que é preciso recuperar a dimensão humana da educação, que foi transformada em um negócio.
A educadora Marlova Noleto aponta para a importância de um bom clima escola. “Na escola, aprendemos não só a ser, mas a fazer, a viver juntos e a conhecer. Um conjunto de regras e valores educam para a vida, não educam apenas no ambiente escolar”, acredita. A especialista reconhece que, em primeiro lugar, é preciso que o professor goste do que faz. “Ensinar é um ato de amor e é sempre uma via de mão dupla. É preciso estar aberto para ensinar e aprender”, aponta.
Em muitos casos, a violência na escola é decorrente do medo de ser reprovado ou de ameaças que o aluno sofre em casa. A coordenadora da Unesco no Brasil diz que é preciso incluir as famílias no processo de educação e ajudar as crianças desde cedo a desenvolver um sentido ético. “Quando estimulamos nossos alunos a respeitar a diferença, estamos também evitando a violência”, observa.
Em última instância, destaca Marlova, a educação deve propiciar também a satisfação dos alunos. “Se o processo de aprendizagem não trouxer também felicidade, dificilmente aprenderemos com qualidade”, afirma.

Extraído dia 02/02/2017 http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2012/11/violencia-nas-escolas-reproduz-violencia-na-sociedade-diz-educadora.html