segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Conceito de Violência Simbólica


Conceito de violência simbólica   
trecho Artigo: VIOLÊNCIA SIMBÓLICA PARA PIERRE BOURDIEU: A RELAÇÃO COM ESCOLA CONTEMPORÂNEA

Milene de Oliveira Machado Ramos Jubé1 
Claudia Valente Cavalcante2 
Claudia Maria Jesus Castro3

Bourdieu (1997, p. 204) "considera como violência simbólica toda coerção que só se institui por intermédio da adesão que o dominado acorda ao dominante (portanto à dominação) quando, para pensar e se pensar ou para pensar sua relação com ele, dispõe apenas de instrumentos de conhecimento que têm em comum com o dominante e que faz com que essa relação pareça natural."       Percebe-se assim, que as desigualdades sociais são multiplicadas pela escola (conservadora), tornando-se permanente a aristocracia escolar, que acaba desenvolvendo estratégias de auto-(re) produção.   A violência simbólica ocorre no meio educacional na medida em que exclui o aluno que não se enquadra nos padrões impostos pela instituição educacional, logo deixando-o às margens do processo, o que, posteriormente, o leva ao desestímulo e finalmente à exclusão. A escola, nesse sentido, não busca incluir os desiguais, esses são tidos como preguiçosos, fracos e incapazes e o fracasso é atribuído a eles como falta de aptidão ou esforço diante às demandas da escola.    Para Bourdieu (1998) violência simbólica, é vista como a forma de coação que se apoia no reconhecimento de uma imposição determinada, seja esta econômica, social ou simbólica. A violência simbólica se dá na criação contínua de crenças no processo de socialização, que leva o indivíduo a se posicionar no espaço social, seguindo os padrões e costumes do discurso. Devido a esse conhecimento do discurso dominante, a violência simbólica é manifestação desse conhecimento através do reconhecimento da legitimidade desse discurso dominante. Assim, violência simbólica, para ele é o meio de exercício do poder simbólico. Os condicionamentos materiais e simbólicos agem sobre nós (sociedade e indivíduos) numa complexa relação de interdependência. Ou seja, a posição social ou o poder que detemos na sociedade não dependem apenas do volume de dinheiro que acumulamos ou de uma situação de prestígio que desfrutamos por possuir escolaridade ou qualquer outra particularidade de destaque, mas está na articulação de sentidos que esses aspectos podem assumir em cada momento histórico.  A violência simbólica é exercida em todos os meios sociais e também na escola, segundo Bourdieu (1998).  Na sociedade contemporânea, os pais cada vez mais se distanciam do papel de educar seus filhos e atribui à escola esse papel , o que se configura como o principal agente educacional da sociedade atual. E lamentavelmente, ao invés do que se espera, a escola não vem educando para formar cidadãos e sim para legitimar o poder simbólico da classe dominante.   A Educação, na teoria de Bourdieu (1992), perde o papel que lhe fora atribuído de instância transformadora e democratizadora das sociedades e passa a ser vista como uma das instituições por meio da qual se mantêm e se legitimam os privilégios sociais.  

Extraído de www.unifimes.edu.br/ojs/index.php/coloquio/article/view/68/237 (acesso em 01/11/2018)

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

A trama da REDE


I
Essa é a trama da rede:
o tecido das trocas que fabricam
o pano de uma rede de dormir
enreda o corpo do homem na tarefa
de criar na máquina a rede com a mão.

A armadilha do trabalho em casa alheia
engole o homem e enovela todo o corpo
no fio no fuso na roda na teia
do maquinário da manufatura
que produz o seu produto: a rede
e reduz o corpo-operário à produção.
[...]

III
O corpo-bailarino que transforma
a coisa bruta em objeto
(a fibra em fio e o fio em pano)
e o objeto na mercadoria
(o pano pronto na rede e sua valia)
transforma o corpo do homem operário
em outro puro objeto de trabalho
pronta a fazer e refazer no fuso
aquilo de que a fábrica faz sua riqueza
de que, quem faz não se apropria.
 
[...]

VII
Sob a trama do trabalho em tear alheio
o corpo não possui seu próprio tempo
e é inútil que lhe bata um coração.

O relógio interior do operário
é o que existe na oficina, fora dele,
de onde controla o tear e o tecelão
  

VIII
De longe o dono zela por quem faz:
pela força do homem que trabalha,
não pela vida do trabalhador.
Aqui não há lugar para o repouso
ainda que o produto do trabalho
seja uma rede de pano, de dormir
e que comprada serve ao sono e ao amor.
 

IX
Durante a flor da vida inteira
fazendo a mesma coisa e refazendo
uma operação simples de memória
o operário condena o próprio corpo
a ser tão automático e eficaz
que domine o gesto que o destrói.
A reprodução contínua, diária, igual
de um mesmo gesto repetido e limitado
todos os dias, sobre os mesmos passos,
ensina ao artesão regras de maestria
do trabalho que afinal então domina
através de saber sua ciência
com a sabedoria do corpo massacrado.
[...]

  
XI
Quem fia e enfia?
Quem carda e corta?
Quem tece e trança?
Quem toca e torce?
A moça o menino.
A velha o homem.
Eles são, artistas,
parte do trabalho coletivo
que faz a trama da rede
e a rede pronta:
o objeto bonito do descanso
que inventa a necessidade
da servidão do trabalho
do corpo produtivo.

 
XII
A dança ritmada desse corpo
de bailarino-operário de um ofício
de que o produto feito não é seu,
cria o servo de quem lhe paga aos sábados
Para o que sobra da vida de trabalho
do corpo de quem fez e não viveu.
O trabalho-pago, alheio e sempre o mesmo
obrigando o operário bailarino
à rotina de fazer sem possuir
torna-o, artista, servo do ardil
de entretecer panos e redes sem criar
e recriar-se servo sem saber.
[...]

 
XIV
Não conhece descanso o corpo na oficina.
Ele é parte das máquinas que move
e que movidas não sabem mais parar.
Os pés descalços prologam pedais
os braços são como alavancas
e as mão estendem pontas de um fio
que existe no fuso e no tear.

 
O trabalho do corpo é o objeto
que o homem vende ao dono todo o dia.
O corpo-livre pertence ao maquinário
que o homem converte no operário
de que reira o preço do sustento:
a comida a cama a casa o agasalho
o que mantém vivo o corpo e o seu trabalho.

Carlos Rodrigues Brandão